FLÁVIO ASSIS

A ribeira e o caminho 

- Flávio Assis - 

No beiral da cama, a carne descancha 

peleja e temporal 

O que pulsa a aranha, presa tece a trama 

miragem ou real? 

Na estrada vinha com as velhas ciganas 

trouxe meu mapa astral 

Vaza de manhã, luz do meu quintal 

a janela escancha, flores na varanda 

Veio pra ficar! 

Na porteira tinha, anjo de Aruanda 

chegou pra me mostrar 

Onde as linhas brincam, o destino alcança 

palma da minha mão 

Sob os pés sentia, a campina fina 

caminho e ribeiral

Tarde tão terçã, brisa e vendaval 

água desce a franja, a serra se encanta 

Veio pra ficar! 

Na pulseira tinha, o fio das missangas 

as cores do orixá 

Água bebe a onça, assum preto sonha

cantigas de alujá 

Na estrada vinha, um Ogum de ronda

trouxe meu tecebá

Noite tão pagã, festa no arraiá

No meu céu cintila a estrela-guia 

Veio pra ficar!